sábado, 24 de janeiro de 2009

Fuga De Nova York


Assistir hoje a “Fuga de Nova York”, de John Carpenter, nos deixa com uma sensação bastante estranha. Afinal, ele se passa num tempo futuro que já aconteceu. No ano em que o filme foi realizado, 1981, talvez não fosse possível acreditar no cenário apocalítico imaginado por Carpenter. Em 1988, a violência em Nova York teria chegado a um nível tão absurdo que Manhattan foi transformada em uma grande prisão, isolada do resto da sociedade americana, onde vivem todas as espécies de tipos marginalizados. Há um setor de segurança máxima, onde os presos, ao chegarem, são avisados de que, como jamais sairão de lá, podem optar por morrer logo e ter o corpo cremado. Assim evitam todo o sofrimento. Simpático, não?
Vejam só a ironia: na visão de Carpenter, Manhattan, que no século passado foi a principal porta de entrada dos imigrantes que formaram a sociedade americana, virou o lugar dos excluídos, de onde ninguém consegue escapar. A ação se passa em 1997, quando terroristas sequestram o avião do presidente americano para fazê-lo de refém em troca da liberdade de prisioneiros. Em uma cena que vista hoje parece um tanto mórbida, o avião quase derruba uma das torres do World Trade Center. Vale lembrar que apenas a cena inicial, em que aparece a Estátua da Liberdade, foi filmada em Nova York. O restante foi rodado nas cidades de Saint Louis e San Fernando, num excelente trabalho de direção de arte, ainda mais se pensarmos que o filme custou apenas 7 milhões de dólares.
Como filme de ação, “Fuga de Nova York” é um tanto tosco, mas essa precariedade é completamente coerente com a proposta de Carpenter e ajuda a entender porque ele pode ser classificado como cult. Afinal, quem pode resistir a Kurt Russell como um anti-herói de tapa-olho, o grande cantor Isaac Hayes como o vilão duque, e o lendário vilão dos faroestes Lee Van Cleef interpretando um policial sem ética? E embora a trama gire em torno do resgate do presidente americano, repare só que a mensagem final não tem nada de patriótica

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