quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

VOLVER


Eleito o melhor filme de 2006 pela Federação Internacional de Críticos de Cinema (FIPRESCI), “Volver”, como o título anuncia, significa a volta de Pedro Almodóvar a uma série de elementos que marcaram sua cinematografia, depois de um rápido flerte com a estética noir em “Má Educação”. No universo predominantemente feminino que ele conhece como poucos, carregado em tom vermelho sangue, estão lá os elementos cômicos absurdos de seus primeiros filmes, combinados com a sensibilidade melodramática das obras-primas “Tudo Sobre Minha Mãe” e “Fale Com Ela”. Também é a volta de Almodóvar à sua cidade natal, a mesma La Mancha de Don Quixote, de onde ele saiu ainda garoto, mas que deixou na lembrança a maneira peculiar com que seus parentes e vizinhos lidavam com a morte. Esse lugar, onde os mortos permanecem vivos não só na memória como no cotidiano dos moradores, em gestos um tanto peculiares, é o cenário perfeito para o cineasta que fez, da dificuldade de aceitação da morte, seu tema preferido nos últimos anos.Almodóvar ressuscita uma de suas musas, Carmen Maura (com quem não trabalhava há 17 anos), para fazê-la brilhar no papel de Irene, a morta-viva que é reconhecível pelo odor da flatulência e se finge de cabeleireira russa. Penelope Cruz, em referência direta à Anna Magnani de “Belíssima”, de Visconti, com direito a enchimento nos quadris, faz da Raimunda espanhola a personificação da mulher forte e encantadora, passional e de coração frágil, capaz de se livrar de um cadáver com o mesmo encanto com que entoa um tango de Gardel. Em vários momentos, a trama de “Volver” pode parecer absurda, surreal até. Há mistério, humor, lágrimas. É Almodóvar tirando proveito de suas obsessões, passeando por gêneros distintos, da forma mais naturalista do mundo. Coisa de quem sabe, e muito.

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